EXPOSIÇÃO "ÁFRICA: OLHARES CURIOSOS", Hilton Silva

sexta-feira, 19 de maio de 2017

"Nós de Aruanda, artistas de terreiros" 2017

A exposição "Nós de Aruanda, artistas de terreiros", estará no Centro Cultural da Justiça Eleitoral a partir da próxima terça-feira, dia 23 de maio  de 2017, na Rua João Diogo, 254 em Belém/PA.
Será o início da quinta versão do projeto iniciado em 2013 pelos Grupo de Estudos e Pesquisa Roda de Axé e Grupo de Estudos Afro-Amazônico/ GEAM (NEAB) da UFPA.

Na programação da abertura, teremos apresentação do Afoxé Ita Lemi Sinavuru, e feira de quitutes da culinária afro-brasiliera, que serão vendidos à preços acessíveis.

Neste ano serão mais de 50 artistas e grupos de artistas expondo seus trabalhos artísticos http://radioexu.com/evento/27398/belempa-exposicao-nos-de-aruanda-artistas-de-terreiro-no-centro-cultural-da-justica-eleitoral

NÓS DE ARUANDA – ARTISTAS DE TERREIRO
Nós de Aruanda é um convite a uma viagem pelo imaginário das Religiões de Matriz Africana existente no Pará. São elas Mina, Umbanda e o Candomblé, passando pelo Pajelança, a Encantaria e o Catolicismo Popular.
São formas poéticas de falar do sagrado, do mágico e do amor aos nossos Orixás, Inkisses, Voduns, Espíritos e Encantados. Mas, o que é significa Aruanda?
Para o leitor mais apressado, Aruanda seria a corruptela da Luanda, precisamente São Paulo de Luanda, antigo porto nas margens do Oceano Atlântico, atual capital de Angola, onde foram embarcados africanas e africanos escravizados trazidos para o Brasil Colonial. Para outros, Aruanda é um lugar utópico, o paraíso da liberdade perdida no imaginário afro-brasileiro, uma cidade que orbitaria em plano mágico/ espiritual. Um lugar para voltar.
A palavra habita cantigas de brincadeiras de roda, em jogos de capoeira, em rezas e cantos religiosos, em manifestações de cultura popular e outras situações em que os povos negros têm importância na construção da cosmologia do lugar e seu povo.” Nós de Aruanda brinca com os sentidos que essa expressão pode ter: de quem, ou de quais nós, nós estamos falando? Talvez o que queiramos seja nos debruçar sobre esses enlaces emaranhados desses nós que, ao fim, significa a busca por conhecer esse rico universo numa perspectiva diferenciada: a pesquisa e o estudo como ferramentas para conhecer, descobrir, divulgar e defender a riqueza das culturas e religiões de matriz africana e suas correlações com as muitas Áfricas que inventamos no Brasil (Tata Kinanbongi)
A necessidade de inserção dos artistas de terreiros no circuito de artes visuais surgiu no final de 2011 como um 'insigth' durante as aulas da disciplina "Poéticas Afro-amazônicas" para o curso de especialização em 'Educação para as relações étnico-raciais' ofertado pelo Grupo de Estudos Afro-Amazônicos — GEAAM/ UFPA. Foi nessas aulas, em que tínhamos o objetivo de subsidiar o ensino de arte e cultura afro-brasileiras e contribuir com a implantação da Lei 10.639/2003, que percebemos que a maioria das obras que a história da arte registra como "arte afro-brasileira" são de artistas euro-descendentes que não fazem parte de comunidades tradicionais de matrizes africanas, e ao fim o que percebemos é um olhar preconceituoso sobre as práticas tradicionais afro-brasileira produzida por artistas que apenas se valem da temática étnico-racial para usa-las em trabalhos sem nenhum envolvimento ou aprofundamento sobre a diáspora africana no Brasil.
A questão é que as artes visuais (diferente do teatro, da dança e da música) é o campo mais restrito das ditas linguagens artísticas, e o que percebemos é que as artes visuais parecem um campo fechado de uso restrito das camadas mais abastadas da sociedade – um mundo restrito às elites.
Essa percepção estimulou o GEP Roda de Axé a iniciar o mapeamento da produção artística nas comunidades de terreiros, e nessa pesquisa - que consideramos em estágio embrionário - encontramos vários artistas que estão nesse processo de inserção e legitimação no circuito das artes visuais.
A proposta que o grupo apresentou aos artistas foi de reunir todos eles/nós em um esforço coletivo de realização de uma exposição em homenagem à Mãe Doca - uma celebração à memória da luta de Dona Rosa Viveiros, ou Nochê Navanakoly, ou Mãe Doca, negra mulher e maranhense de Codó, que apenas três anos após a abolição da escravatura enfrentou o racismo, preconceitos da época e inaugurou seu Terreiro de Tambor de Mina na capital paraense. A partir dos 18 de março de 1891 ela foi presa várias vezes porque tocava tambores e cultuava as divindades africanas com as quais preservava as tradições de matriz afro-amazônica, e nem por isso desistiu de manter aberto o terreiro que dava lugar à manutenção das tradições de sua origem negra africana. A consciência negra foi o que motivou Mãe Doca a enfrentar os desmandos da polícia e o poder constituído em alicerces racistas e discriminatórios.
Nessa mesma perspectiva, mobilizamos também os pesquisadores da UFPA, principalmente os da área de ciências humanas e sociais, para conhecer e escrever sobre a poética dos artistas de terreiros. Com isso tudo nós abrimos espaço para iniciar a inserção do protagonismo de artistas afro-brasileiros, e da cosmologia das comunidades de terreiros, na história da arte brasileira. 
Superando todas as expectativas, os artistas foram muito mais além dos objetivos iniciais e passaram a ocupar espaços das artes visuais em outros projetos que se multiplicaram a partir de 2013, com os desdobramentos da Nós de Aruanda em 04 exposições: 2013 – Galeria Theodoro Braga; 2014 – Galeria Theodoro Braga; 2015 – Galeria Canto do Patrimônio, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –PHAN; 2016 – Galeria Theodoro Braga (Edital de pauta da GTB/ FCP), apresentando a diversidade dessa produção "periférica" como um discurso afirmativo do protagonismo afro-amazônico na produção de poéticas visuais.
Aruanda, enfim é um lugar para voltar, para os africanos escravizados e seus descendentes voltarem. Aruanda é um lugar para eles, seres do espaço astral, senhores do axé habitarem, Aruanda, somos todos nós, por isso somo Nós de Aruanda!
Profa. Marilu Márcia Campelo
UFPA.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário